segunda-feira, 5 de novembro de 2012

RETIRO: UMA GRAÇA QUE RECEBEMOS DE DEUS

O Retiro é um tempo privilegiado para acolher o dom de Deus e deixá-lo agir em nossa vida. Através de uma vontade livre e esclarecida poderemos silenciar para ouvir a sua voz, e com amor, cumpri-la.
Para fazer bem o Retiro são necessários três elementos:
A força criadora do Espírito de Deus que não falha. Eis a verdade fundamental sobre a eficácia do Retiro, a seta que traça a única direção verdadeira. O Retiro, antes de mais nada, quer colocar a pessoa em sintonia com o Espírito de Deus.
A boa disposição do Retirante. Sua liberdade interior. Sua docilidade generosa para abrir-se ás inspirações de Deus, aceitar e agradecer livremente sua graça.
A ação discreta e humilde de um orientador espiritual.
Facilitar, acatar e impulsionar à GRAÇA de DEUS em nós e dar abertura para que sejamos conduzidos pelo Espírito Santo, é indispensável para a eficácia do retiro. Neste sentido, com espírito de humildade, de entrega e de partilha, devemos seguir estritamente a metodologia que nos é proposta no retiro, ou seja, realizar um conjunto de iniciativas: orações pessoais, orações comunitárias, exames de consciência e intensa participação na liturgia sacramental, para que o retiro seja um tempo exclusivo de graça e fé.
O Retiro é uma Graça, um dom de Deus. É a chance que se tem num momento oportuno e que não volta mais da mesma maneira.
Toda a vida espiritual da pessoa, isto é, o modo de se deixar embeber e guiar-se pelo Espírito, está continuamente envolvida pela graça, desenvolve-se no âmbito da graça antecipada, no chamamento eficaz de Deus.
Não há método capaz de atingir a perfeição espiritual. Nosso empenho, todavia, é indispensável para criar o clima e a atmosfera nos quais o Espírito Santo possa agir livremente.
Deus não depende da força humana, palavra e ação, para realizar a obra de sua graça. E a fraqueza humana não impede Deus de a realizar. Deus realiza a sua redenção sem depender de qualidades humanas, embora as utilize e absorva. Deus não dispensa os nossos passos. A luta da pessoa é necessária. Ele aguarda a nossa iniciativa. Precisamos desenvolver, portanto, hábitos mentais e de comportamento que mais favoreçam a ação da graça.
É a graça que faz a pessoa colocar-se na busca de Deus, dizer sim a Ele. É a graça que suscita a resposta afirmativa, transforma a liberdade e a vontade, orientando-as para o bem. É a graça, amor de Deus, que a conduz à salvação, libertando-a de sua oposição ao que vem de Deus.
O retiro é composto de três etapas distintas, mas inter-relacionadas e complementares; a ESCUTA, a REFLEXÃO e a conseqüente e renovada CONVERSÃO, ou seja, a passagem de uma vida autocêntrica para uma vida centrada em DEUS.
Cada um precisa dispor-se a mobilizar interiormente a sua vontade, não oferecer resistência, não recusar, não rejeitar, desejar sempre através de perseverante exercício da fé, afinal, QUERER, significa otimizar as oportunidades da GRAÇA, para participar e viver cada retiro. Portanto, o retiro requer de nós uma permanente mobilização, abertos a graça de Deus e numa incansável vigília.
Fala, Senhor, que o teu servo escuta, (1Sm 3,10).
Escutar para exercitar. A escuta de Deus nos recria quando se passa à prática.Para o alcance de tão desejável meta é necessário esforço e através do dom de Deus, de encontrar os meios que levam a este fim. O SILÊNCIO no retiro é de fundamental importância, para que se faça uma viagem por dentro, viagem introspectiva. Reconhecer e reencontrar a própria intimidade.
Quem foge do silêncio, foge do Mistério, que é Deus. No silêncio mergulhamos na intimidade com o Senhor. Ele é o dono da vinha e da messe. É ele quem faz a semente crescer. É ele quem marca os ritmos. Na intimidade com o Senhor apreendem-se os segredos do Reino e se aprofunda no plano de salvação de Deus.
Cercados de barulho, não se consegue, de modo conveniente, a disponibilidade psicológica e a paz interior necessárias à oração, à contemplação, ao encontro com o mais íntimo de nós mesmos.
O convite de Jesus aos discípulos tem, aqui, plena valia: “Ao cair da tarde, naquele dia, disse-lhes Jesus: passemos para a outra margem” (Mc 4,35). O Retiro é o tempo de passar para a outra margem. Movimentar-se de fora para dentro. Deslocar a atenção e os pensamentos do exterior para o interior. Entrar em si mesmo. Na interioridade da pessoa mora a verdade porque, como diz Santo Agostinho, Deus nos é mais íntimo do que o nosso próprio interior. Ele brota das fontes mais profundas da pessoa.
Fazer bem o Retiro é dom gratuito de Deus, acolhido com simplicidade e cultivado com liberdade interior em terra boa, assimilado e multiplicado na fidelidade ativa e criadora em cada dia do Retiro. Não basta, pois participar só no PRIMEIRO DIA, nem no último, mas em TODOS os dias e em cada um deles manter-se incansavelmente com a lâmpada acesa, sem atitude rotineira e com empenho sempre renovado.
É necessário esforço, tenacidade, disciplina, para acolher, assimilar, cultivar e multiplicar o dom de Deus em nós, em TODOS os dias do retiro, com incansável constância.
Para FAZER BEM o RETIRO, que é uma GRAÇA, é indispensável ter um coração que escuta. Estar ligado. Captar, identificar e agarrar a sua hora, a hora de sua bem-aventurança. É Deus quem marca esta hora. Mas o acolhimento se dá no interior do coração de cada Retirante.
A dureza, a surdez do coração, a insensibilidade espiritual, a auto-suficiência e, sobretudo, a desconfiança do amor fiel de Deus, tornam vão o Retiro.
O retiro é tempo da visita de Deus e Deus nunca vem de mãos vazias.


Fonte: Querer Fazer Bem o Retiro – Pe Marcos de Lima, SDB – Ed. Loyola